sábado, 16 de fevereiro de 2008

Empire: love to love you baby, by Ricky Seabra (o cara de pau)


Quem vê os sorrisos não imagina o trabalho que dá montar uma peça.
Peça estreada na Bélgica em inglês sob a direção do Dirk Verstockt (o de longas madeixas da foto).
O projeto Díptico é do multiperformático Ricky Seabra (o do cartaz e também aquele entre as duas moçoilas). A produção, do João Braune Fomenta (Soul guy).
Durante a entrevista para a TV de Brasília, Ricky lembrou do dia em que nos conhecemos num centro cultural onde alguém fazia uma exposição, e depois de apresentações mútuas, ao saber que ele andava pelos palcos do mundo sem nunca ter feito curso de ator, perguntei: ah, então você é cara de pau mesmo? (câmera vira em minha direção no momento em que ele aponta para mim, que assistia da platéia aquele momento glamour do meu atual ator preferido).
Fiquei me perguntando sobre o ofício do ator. Nesta época em que todas as peladas dos programas sobre a vida de ninguéms se espalha numa velocidade-luz, e da noite pro dia aqueles que têm orgulho em não gostar de ler viram celebridades, fico pensando se a vida não é feita de caras de pau. Não de caras de pau como o Ricky, que brinca com o fato de ser um, ao constatar que para subir no palco temos que antes de mais nada acreditar no que temos a dizer.
Mas de caras de pau como esses grupos de pessoinhas que constroem suas vidas após toparem ficar dias encarcerados numa casa com mordomias que jamais teriam, não fosse tal acordo.
Penso ainda: será que a arte do século 21 é isso? dividida entre quem tem o que dizer e quem não tem o que dizer e mesmo assim abre a boca?
Ricky está no grupo dos que têm o que dizer. Vi seu trabalho pela primeira vez dividindo palco com Andréa Jabor em Isadora.Orb e aquela viagem ao mundo das brincadeiras sérias do Ricky me fascinou. Não quis ir ao camarim ao final da apresentação por ser último dia de temporada, e no último dia queremos recolher as coisas e um bom banho quente.
Dois meses mais tarde nos encontramos no tal centro cultural e o diálogo chegou ao ser ou não ser um cara de pau. Sim, Ricky tomou para ele este rótulo e tempos depois fez com que todos soubessem dele, em cadeia nacional. E riu disso. E me faz rir da vida. Da vontade de fazer teatro, de apostar na arte, no mundo que pode ser melhorado através dela.
Ricky agora está na Holanda, esperando Dirk, e juntos darão um workshop para alguns diretores de teatro. Este curso será sobre o teatro no século 21. Discutirão temas, questões atuais, desafios e formas de tratar tais assuntos pela arte. Depois de 3 meses nesse brainstorming Ricky voltará para o Brasil para fazer o Palco Giratório do SESC, levando seu trabalho pelas cidades do nosso país, com Isadora. Orb, o trabalho que me fez querer conhecer esse ator (depois de Empire já o considero um ator) com cara de menino. Inteligentíssimo, culto, antenado com tudo o que acontece no mundo, e possuidor de uma sensibilidade imensa. Ricky diz que o que o fez me convidar e também a Sônia Destri (na foto, a moçoila de lado) foi o nosso entusiasmo. Diz ele que contou sobre o projeto de Empire a centenas de pessoas e apenas nós duas (Thank God!) mostramos energia e interesse pelo projeto. Engraçado, hoje em dia é a mesma sensação que tenho quando converso com milhares de pessoas que cruzam meu caminho apenas para exporem seus próprios umbigos, projetos que só interessam a elas mesmas...e se esquecem de perguntar: e você, o que tem feito?
Mas isso é assunto para um outro dia.
Hoje é dia de comemorar e homenagear esse Homem de Teatro (quem me inspirou a criar este blog) Ricky Seabra.
Ricky: obrigada por apostar no entusiasmo, seu cara de pau!
Longa vida à Imperatriz!

Nenhum comentário: